segunda-feira, 31 de maio de 2010

A DIREITA, ENFIM, ACHOU SEU CANDIDATO



Depois do Mercosul, o novo alvo de Serra é a Bolívia. Para azar do pré-candidato tucano e sorte do Brasil e do mundo, a era Bush chegou ao fim. Algum assessor com um mínimo de lucidez e informação bem que poderia avisá-lo das mudanças que estão em curso no mundo. Mas se o ex-governador de São Paulo decidiu abraçar por inteiro a agenda da direita no Brasil, na América Latina e nos Estados Unidos, faz sentido ele lutar pela restauração da velha ordem. Pode-se dizer, então, que, enfim, a direita achou um candidato à presidência do Brasil.


Editorial - Carta Maior

“A questão”, ponderou Alice, “é saber se o senhor pode fazer as palavras dizerem tantas coisas diferentes”.



“A questão”, replicou Humpty Dumpty, “é saber quem é que manda. É só isso”.

Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas (cap.6).


As declarações do ex-governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, acusando o governo boliviano de ser “cúmplice de traficantes”, além de levianas e irresponsáveis, podem acabar se voltando contra o próprio autor. Pela lógica da argumentação de Serra, não seria possível a exportação de cocaína a partir da Bolívia sem a conivência e/ou participação das autoridades daquele país. Bem, se é assim, alguém poderia dizer também que Serra é cúmplice do PCC (Primeiro Comando da Capital), da violência e do tráfico de drogas em São Paulo. “Você acha que toda violência e tráfico de drogas em São Paulo seria possível se o governo de lá não fosse cúmplice?” – poderia perguntar alguém, parafraseando Serra.

Neste mesmo contexto, cabe lembrar ainda as declarações do traficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadia, preso em 2007 no Brasil, que, em um depoimento à Justiça Federal em São Paulo, disse: “Para acabar com o tráfico de drogas em São Paulo, basta fechar o Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos)”. As denúncias de um traficante valem o que ele vale. Neste caso valeram, ao menos, o interesse da Justiça Federal em investigar a possibilidade de ligação entre o tráfico de drogas e a corrupção policial, possibilidade esta que parece não habitar o horizonte de Serra. O pré-candidato foi governador de São Paulo, mas afirma não ter nada a ver com isso. A culpa é da Bolívia.

Há método na aparente loucura do pré-candidato do PSDB. O fato de ter repetido as acusações levianas contra o governo de um país vizinho – e amigo, sim – do Brasil mostra que Serra acredita que pode ganhar votos com elas. Trata-se de um comportamento que revela traços interessantes da personalidade do pré-candidato e da estratégia de sua candidatura. Em primeiro lugar, mostra uma curiosa seletividade geográfica: em sua diatribe contra governos latino-americanos, Serra esqueceu de acusar a Colômbia como “cúmplice do narcotráfico”. Esquecimento, na verdade, que expõe mais ainda o caráter leviano da estratégia. Trata-se, simplesmente, de atacar governos considerados “amigos” do governo brasileiro.

Em segundo lugar, mostra uma postura irresponsável do pré-candidato, tomando a palavra aí em seu sentido literal, a saber, aquele que não responde por seus atos. Antes de apontar o dedo acusador para o governo de um país vizinho, Serra poderia visitar algumas ruas localizadas no centro velho de São Paulo que foram tomadas por traficantes e dependentes de drogas. Serra já ouviu falar da Cracolândia? Junto com a administração Kassab, um governo amigo como gosta de dizer, fez alguma coisa para resolver o problema? Imagine, Sr. Serra, 200 pessoas sob o efeito do crack gritando sob a sua janela, numa madrugada interminável ... Surreal? Na Cracolância é normal. E isso ocorre na sua cidade, não na Bolívia. Ocorre na capital do Estado onde o senhor foi eleito para governar e trabalhar para resolver, entre outros, esse tipo de problema. Mas é mais fácil, claro, acusar outro país pelo problema, ainda mais se esse outro país for governado por um índio.

E aí aparece o terceiro e mais perverso traço da estratégia de Serra: um racismo mal dissimulado. Quem decide apostar na estratégia do vale-tudo para ganhar um voto não hesita em dialogar com toda sorte de preconceito existente em nossa sociedade. Acusar o governo de Evo Morales de ser cúmplice do tráfico, além de ignorar criminosamente os esforços feitos atualmente pelo governo boliviano para combater o tráfico, aposta na força do preconceito contra Evo Morales, que já se manifestou várias vezes na imprensa brasileira por ocasião das disputas envolvendo o gás boliviano. Apostando neste imaginário perverso, acusar um índio boliviano de ser cúmplice do tráfico de drogas parece ser “mais negócio” do que acusar um branco de classe média que sabe usar boas gravatas. Alguém com Álvaro Uribe, por exemplo...

E, em quarto, mas não menos importante lugar, as declarações do pré-candidato tucano indicam um retrocesso de proporções gigantescas na política externa brasileira, caso fosse eleito presidente da República. Mais uma vez aqui, há método na loucura tucana. Não é por acaso que essas declarações surgem no exato momento em que o Brasil desponta como um ator de peso na política global, defendendo o caminho do diálogo e da negociação ao invés da via das armas, da destruição e da morte. Como assinala José Luís Fiori em artigo publicado nesta página:

A mensagem foi clara: o Brasil quer ser uma potencia global e usará sua influência para ajudar a moldar o mundo, além de suas fronteiras. E o sucesso do Acordo já consagrou uma nova posição de autonomia do Brasil, com relação aos Estados Unidos, Inglaterra e França (...) O jornal O Globo foi quem acertou em cheio, ao prever - com perfeita lucidez - na véspera do Acordo, que o sucesso da mediação do presidente Lula com o Irã projetaria o Brasil, definitivamente, no cenário mundial. O que de fato aconteceu, estabelecendo uma descontinuidade definitiva com relação à política externa do governo FHC, que foi, ao mesmo tempo, provinciana e deslumbrada, e submissa aos juízos e decisões estratégicas das grandes potências.

As últimas linhas do texto de Fiori resumem o que está por trás da estratégia de Serra de chamar o Mercosul de “farsa”, de acusar o governo da Bolívia de cumplicidade com o tráfico, de criticar a iniciativa do governo brasileiro em ajudar a evitar uma nova guerra no Oriente Médio. Curiosa e tristemente, essa estratégia, entre outros lamentáveis problemas, sofre de um atraso histórico dramático. Para azar de Serra e sorte do Brasil e do mundo, a doutrina Bush chegou ao fim. No dia 27 de maio, o governo dos EUA anunciou sua nova doutrina de segurança nacional que abandonou o conceito de “guerra preventiva” como elemento definidor da estratégia da política externa norte-americana. Algum assessor com um mínimo de lucidez e informação bem que poderia avisar ao pré-candidato tucano das

mudanças que estão em curso no mundo, especialmente do final da era Bush. Mas se ele decidiu abraçar por inteiro a agenda da direita no Brasil, na América Latina e nos Estados Unidos, faz sentido lutar pela restauração da velha ordem. Pode-se dizer, então, que, enfim, a direita achou um candidato à presidência do Brasil.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Denúncia reacende polêmica nuclear no Oriente Médio



Documentos secretos da África do Sul revelam que Israel tentou vender armas nucleares para o país africano na época do apartheid, configurando-se como o primeiro documento oficial que evidencia que os israelenses possuem arsenal nuclear, informou o jornal britânico The Guardian. Em comunicado oficial, a presidência de Israel afirma que "não existe base de realidade alguma" na informação publicada pelo jornal.

Redação

Os documentos em questão, diz o jornal, são minutas de reuniões entre membros dos governos dos dois países realizadas em 1975. Na ata, ministro da Defesa sul-africano na época, PW Botha, perguntou sobre as ogivas e o então ministro da Defesa de Israel, Shimon Peres, ofereceu as armas "em três tamanhos" — referindo-se a armas convencionais, químicas e nucleares. Shimon Peres é o atual presidente israelense.

Os dois ministros ainda assinaram um acordo de cooperação militar entre os dois países, sendo que o próprio acordo continha uma cláusula que determinava o mesmo deveria se manter secreto. Segundo o jornal britânico, os documentos foram descobertos pelo pesquisador americano Sasha Polakow-Suransky, que estuda a relação entre Israel e África do Sul e escreveu um livro sobre o tema.

O documento é a primeira evidência real de que Israel possui armas nucleares, a despeito de sua política de nem negar nem confirmar que possui este tipo de armamento. Além disso, a revelação deixa um duplo embaraço diplomático para Israel. O primeiro é que cairia por terra um possível argumento israelense de que, mesmo que tivesse armas nucleares, seria um país "responsável" o suficiente para mantê-las, uma vez que tentou vender o arsenal para outro país.

O segundo é que nesta semana haverá discussões na ONU sobre sanções contra o Irã — país adversário de Israel — devido ao programa nuclear do país persa. Os israelenses estão entre os países que mais pressionam pelas sanções.

As atas das reuniões mostram ainda que os militares sul-africanos desejavam obter armas nucleares para ter um elemento de dissuasão ou até para potenciais conflitos contra países vizinhos.

Israel negou nesta segunda-feira que seu atual presidente, Shimon Peres, tenha oferecido em 1975 ogivas nucleares à África do Sul.

Em comunicado oficial, a presidência de Israel afirma que "não existe base de realidade alguma" na informação publicada pelo jornal. "Israel nunca negociou armas nucleares com a África do Sul. Não existe um só documento israelense ou uma só assinatura israelense em documento algum",diz a nota. A presidência israelense anunciou que enviará uma "contundente carta" ao diretor do jornal e pedirá "a publicação da verdade sobre os fatos".

A nota não afirma nem nega que Israel possua armas nucleares.
O IRÃ e o império decadente


 
Luiz Carlos Bresser Pereira*, na Folha de S. Paulo, em 23/05/2010

Há algum tempo, o establishment mundial recebeu com um misto de irritação e descrença a notícia de que o presidente Lula se dispunha a intermediar a questão do Irã.

Na semana passada a diplomacia brasileira alcançou um êxito histórico em Teerã ao lograr que o governo nacionalista islâmico do Irã aceitasse o acordo sobre a troca de urânio pouco enriquecido por urânio enriquecido a 20% nos mesmos termos que as grandes potências e a AIEA(agência atômica da ONU) haviam proposto há seis meses.

Não obstante, alegando que o acordo não assegura que o Irã não utilizará o restante do urânio em seu poder para se tornar potência nuclear, os EUA conseguiram convencer as demais grandes potências a levar ao Conselho de Segurança da ONU a proposta de novas sanções ao Irã. E adicionaram mais uma “razão”: assim, evitam que seu aliado Israel bombardeie o Irã. Significa isso que o acordo de Teerã fracassou?

As razões para ignorar o acordo bem pensado e realizado não se sustentam. A recusa dos EUA de continuar a negociação a partir dele deixou mais uma vez claro que seu objetivo principal não é evitar que o Irã tenha a bomba, mas é desestabilizar seu governo.

Desde a Revolução Islâmica de 1979, os EUA vêm procurando derrubar o governo nacionalista iraniano. Primeiro, porque o regime seria fundamentalista; depois, porque ameaçaria Israel.

Nesse sentido, suas ações não se limitaram ao “soft power” e à diplomacia, mas foram militares. Em 1981, financiaram uma guerra mortífera do Iraque de Saddam Hussein contra o Irã, que durou quase dez anos e terminou com a derrota da coligação americano-iraquiana.

Agora, depois de haver invadido e submetido seu antigo aliado, voltam- se de novo contra o regime dos aiatolás e de seu boquirroto e autoritário presidente, Mahmoud Ahmadinejad.

Mostram, assim, coerência em sua política imperial de controle político-militar do Oriente Médio. O fato de a China ter concordado em assinar o pedido de mais sanções significaria que não usará seu poder de veto no Conselho de Segurança? É possível, mas não é provável. A China assinou o pedido para, neste momento, não aumentar seu contencioso com os EUA, que já é grande.

Por isso, é bem possível que o acordo de Teerã e as reações que está provocando levem os chineses, que não têm interesse em que os EUA e a Europa aumentem ainda mais seu poder no Oriente Médio, afinal a recusar seu voto às sanções.

Os EUA são um império em decadência que tenta ser imperial em uma fase da história mundial na qual os impérios não fazem mais sentido.

Os dois últimos grandes impérios foram o britânico e o soviético. Fracassaram por diferentes razões, mas principalmente porque hoje mesmo países mais atrasados são membros plenos da ONU e não aceitam a dominação imperial.

Não obstante, os EUA insistem em terem bases militares espalhadas em todo o mundo para “legitimar” a imposição de sua vontade. Sabemos, porém, que não é com armas, mas com bons argumentos e com concessões mútuas que haverá paz entre as nações.

*LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC).

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Dá série: DOR DE COTOVELO



Não verás Lula nenhum

A reação da velha mídia nativa ao acordo nuclear do Irã, costurado pelas diplomacias brasileira e turca chega a ser cômica, mas revela, antes de tudo, o despreparo da classe dirigente brasileira em interpretar a força histórica do momento. O claro ressentimento da velha guarda midiática com o sucesso de Lula e do ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, deixou de ser um fenômeno de ocasião, até então norteado por opções ideológicas, para descambar na inveja pura, quando não naquilo que sempre foi: um ódio de classe cada vez menos disfarçado. O artigo é de Leandro Fortes.

Leandro Fortes - Brasília, eu vi


Em linhas gerais, Luís Fernando Veríssimo disse, em artigo recente, que as gerações futuras de historiadores terão enorme dificuldade para compreender a razão de, no presente que se apresenta, um presidente da República tão popular como Luiz Inácio Lula da Silva ser alvo de uma campanha permanente de oposição e desconstrução por parte da mídia brasileira. Em suma, Veríssimo colocou em perspectiva histórica uma questão que, distante no tempo, contará com a vantagem de poder ser discutida a frio, mas nem por isso deixará de ser, talvez, o ponto de análise mais intrigante da vida política do Brasil da primeira década do século XXI.

A reação da velha mídia nativa ao acordo nuclear do Irã, costurado pelas diplomacias brasileira e turca chega a ser cômica, mas revela, antes de tudo, o despreparo da classe dirigente brasileira em interpretar a força histórica do momento e suas conseqüências para a consolidação daquilo que se anuncia, finalmente, como civilização brasileira.

O claro ressentimento da velha guarda midiática com o sucesso de Lula e do ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, deixou de ser um fenômeno de ocasião, até então norteado por opções ideológicas, para descambar na inveja pura, quando não naquilo que sempre foi: um ódio de classe cada vez menos disfarçado, fruto de uma incompreensão histórica que só pode ser justificada pelo distanciamento dos donos da mídia em relação ao mundo real, e da disponib ilidade quase infinita de seus jornalistas para fazer, literalmente, qualquer trabalho que lhe mandarem os chefes e patrões, na vã esperança de um dia ser igual a eles.

Assim, enquanto a imprensa mundial se dedica a decodificar as engrenagens e circunstâncias que fizeram de Lula o mais importante líder mundial desse final de década, a imprensa brasileira se debate em como destituí-lo de toda glória, de reduzí-lo a um analfabeto funcional premiado pela sorte, a um manipulador de massas movido por programas de bolsas e incentivos, a um demagogo de fala mansa que esconde pretensões autoritárias disfarçadas, aqui e ali, de boas intenções populares. Tenta, portanto, converter a verdade atual em mentiras de registro, como se fosse possível enganar o futuro com notícias de jornal.

Destituídos de poder e credibilidade, os barões dessa mídia decadente e anciã se lançaram nessa missão suicida quando poderiam, simplesmente, ter se dedicado a fazer bom jornalismo, crítico e construtivo. Têm dinheiro e pessoal qualificado para tal. Ao invés disso, dedicaram-se a escrever para si mesmos, a se retroalimentar de preconceitos e maledicências, a pintarem o mundo a partir da imagem projetada pela classe média brasileira, uma gente quase que integralmente iletrada e apavorada, um exército de reginas duartes prestes a ter um ataque de nervos toda vez que um negro é admitido na universidade por meio de uma cota racial.

Ainda assim, paradoxalmente, uma massa beneficiada pelo crescimento econômico, mas escrava da própria indigência intelectual.

Da série: O nosso Brasil esta mudando.



CURTAS: Investigação fiscal...

Na Receita Federal, há constrangimento pelo seu uso político. “Nunca antes na história deste País”, ironiza um servidor, a Receita investigaria militares do Exército só porque não são simpáticos ao governo.

...antes era só técnica

Antes do governo Lula, a Receita investigava casos de enriquecimento ilícito ou por amostragem (escolha aleatória, com base em "parâmetros"), denúncias na imprensa (investigados em CPIs, por exemplo), a pedido do Ministério Público ou sob ordem judicial, explica um veterano fiscal. (Coluna de Cláudio Humberto)
 
Leia mais:http://www.jornaldamidia.com.br/

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A falsa democracia dos EUA e o declínio de poder


A democracia dos Estados Unidos é uma farsa. Fingem viver em um ambiente democrático, mas na verdade alternam no poder dois partidos que são mais do mesmo e representam apenas a elite conservadora americana.



Nos EUA não há posição de oposição de verdade, os dois partidos que dominam o poder têm a mesma visão imperialista-belicista de direita, que independente do partido que esteja no controle, vão agir sempre da mesma forma. As diferenças tênues entre Democratas e Republicanos se resumem a condução da política econômica.

Como em toda ditadura de opinião, a oposição de verdade nos EUA foi perseguida e aniquilada na época da caça às bruxas e Macartismo naquele país, hoje os partidos predominantes e que tem chances reais de vencer as eleições estão no mesmo espectro ideológico. Não existe real alternância de poder naquele país.

Barack Obama foi à decepção do milênio. Criou nos americanos e no resto do mundo a vã esperança que iria mudar a forma de fazer política externa nos estados unidos, sem a agressividade e arrogância a que nos acostumamos a ver durante o governo Bush. Tudo mais falso que nota de três dólares. Obama mostra que não é mais que um discípulo de Bush, é capaz de ser dissimulado para tentar manter um discurso que é facilmente contestado pelas suas próprias ações.

Se já soa falso quando um político americano fala em democracia, muito mais quando o assunto é direitos humanos. A prisão de Guantánamo ainda não foi desativada e presos são tratados em condições desumanas. Na prisão de Abu Graib no Iraque, todos nós lembramos das torturas e humilhações que prisioneiros iraquianos sofreram na mão de psicopatas armados. Há poucos dias as pessoas de bem ficaram estupefatas depois de ver um vídeo que vazou e mostrava a execução covarde de civis inocentes, que foram metralhados por um helicóptero de guerra americano no Afeganistão.

A desastrosa política externa e belicista dos EUA, além de não trazer nenhum resultado positivo para aquele país e para o mundo (vide o terrorismo que só cresce), ainda aumenta a lista de povos que odeiam os EUA, e cá para nós, motivos não faltam para isso. Os EUA não respeitam a autodeterminação dos povos e trata suas negociações com arrogância, intimidações e ameaças, em uma política de confrontamento que só inviabiliza qualquer diálogo.

O presidente Lula e o Itamaraty provaram ao mundo que só há uma solução para se chegar a consensos que fracassaram anteriormente com a abordagem agressiva, e essa solução passa pelo respeito a um país soberano e seu direito de definir o seu caminho e em contrapartida, mostrando respeito e ganhando confiança, são maiores as chances de convencimento.

A reação negativa dos EUA só mostra como não dá para confiar na palavra de Barack Obama e seus asseclas, afinal foram eles mesmos que sugeriram as bases desse acordo no ano passado que só não foi à frente por causa da falta de tato dos americanos.


Os EUA são os maiores derrotados com o acordo Irã-Brasil-Turquia. Perderam a condição de negociador preferencial, pois teve sua capacidade de mediar colocada em xeque. Perdem com o não alinhamento de Brasil e Turquia que em passado recente praticavam adesismo lacaio a todas as posições dos EUA, assim como faz a velha mídia no Brasil.

Perdeu ainda com a reação destemperada ao acordo porque ficou parecendo que o EUA tem interesses escusos que os faz preferir que não exista solução negociada, aliás, alguns fatos coincidentemente ou não, lembram muito a época da pré-guerra com o Iraque pela demonização do líder político e nas mentiras sobre armas de destruição em massa.

Os EUA parecem se debater com a perda de poder e influência internacional, que nessa nova ordem mundial tem se diluído com os emergentes. A aposta dos EUA é muito alta, pois duas derrotas seguidas seriam difíceis de serem digeridas e as críticas internas à Obama podem se intensificar..

terça-feira, 18 de maio de 2010

Brasil-Turquia (1) x (0)Sanções



19/5/2010, Pepe Escobar, Asia Times Online

 
À medida que se aproximava o Dia D em Teerã, foi como se o mundo todo acompanhasse um sorteio de loteria. O presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, a caminho para Teerã, disse que as chances de convencer a República Islâmica a aceitar um acordo de troca de combustível nuclear aproximavam-se de 99%. O presidente da Rússia Dmitry Medvedev, depois de encontrar-se com Lula em Moscou, na sexta-feira passada, disse que as chances aproximavam-se mais de 33%. E o Departamento de Estado dos EUA, via secretária Hillary Clinton, estava mais para impedimento preventivo, apostando no 0%.

Lula ganhou a aposta. Se fosse partida de futebol – mês que vem, bilhões de pessoas, em todo o mundo, acompanharão a Copa do Mundo – o resultado final teria sido Brasil-Turquia 1, EUA 0, com gol da vitória no último minuto da prorrogação.

Bem-vindos ao novo eixo dos acordos: Teerã-Brasília-Ancara. Nessa 2ª-feira em Teerã, Brasil, Turquia e Irã viam seus ministros de Relações Exteriores assinarem inovador tratado de troca de combustível, pelo qual o Irã embarcará para a Turquia 1.200 kg de urânio baixo-enriquecido a 3,5%, e receberá em troca, depois de no máximo um ano, 120 kg de urânio enriquecido a 20%, para fazer funcionar o Reator de Pesquisas de Teerã – tudo sob supervisão do Irã e da Agência Internacional de Energia Atômica.

Lula descreveu o acordo como “uma vitória da diplomacia” – depois de toda a imprensa conservadora nos EUA e no Brasil tê-lo metralhado incansavelmente por intrometer-se nesse jogo de xadrez de apostas que, para aquela imprensa, seriam altas demais para seu bedelho.

Dois membros não permanentes do Conselho de Segurança da ONU, Brasil e Turquia – esgrimindo diplomacia de alta qualidade – derrotaram os EUA (e seus três aliados europeus, França, Grã-Bretanha e Alemanha), que apostavam no confronto. Foi, sobretudo, vitória dos países chamados BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). É, de fato, o contra-poder global emergente, em oposição à hegemonia dos EUA.

Previsivelmente, o governo Obama em geral, e a secretária Clinton em especial, dedicam-se hoje a requentar a conversa velha de o Irã “não respeita compromissos assumidos”. Mas não convencerão a verdadeira “comunidade internacional” do mundo em desenvolvimento; no máximo, serão algumas quirelas jogadas para acalmar (parcialmente) o poderoso lobby pró-guerra-infinita de Washington.

Ainda não completamente sancionado

Como se constrói acordo desse tipo? Muito cuidadoso, Lula destacou que o Brasil atuava como mediador, sempre insistindo em construir “confiança” no diálogo em andamento com Teerã. Mais importante que tudo, antes de chegar a Teerã, Lula conversou demoradamente com todos os principais atores – EUA, Rússia, China e França.

Em Teerã, Lula e o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan – que só voou para Teerã no último instante –, afinal conseguiram “vender” a proposta conjunta de Brasil-Turquia, de troca de combustível nuclear, ao presidente do Irã Mahmud Ahmadinejad e ao Secretário do Conselho Supremo de Segurança do Irã Saeed Jalili, depois de 18 horas de negociações feitas a portas fechadas, à margem do encontro do Grupo dos 15. Os principais negociadores foram os ministros das Relações Exteriores do Brasil Celso Amorim; da Turquia Ahmet Davutoglu; e do Irã Manouchehr Mottaki.

Para Amorim do Brasil, o acordo “deve bastar” para evitar uma quarta rodada de sanções do Conselho de Segurança da ONU contra o Irã, ideia fixa obcecada de Washington/Telavive; destacou que “é exatamente o que outros países sempre disseram, que o acordo era necessário, o acordo de troca, para que as conversações pudessem prosseguir”.

Para o Chanceler brasileiro, o acordo é um “passaporte” para negociações mais amplas, de modo a assegurar que o Irã possa exercer seu “direito legítimo” de construir seu programa de pesquisas para uso civil da energia nuclear. O Chanceler turco Davutoglu disse que, agora, a bola passou para o campo da Agência Internacional de Energia Atômica: “o Irã escreverá à IAEA, e esperamos que a IAEA responda positivamente e sem demora, de modo que tenhamos resultado em pouco tempo”. E acrescentou: “Não há mais necessidade de sanções, agora que nós [Turquia e Brasil] oferecemos garantias de que só o urânio baixo-enriquecido permanecerá na Turquia”. Medvedev, embora mais contido na reação, elogiou o esforço de Brasil e Turquia e discutiu longamente com Lula, por telefone, detalhes do acordo.

Me enriqueça, baby

O acordo é semelhante, mas não idêntico, ao proposto pelo Grupo “Irã Seis” (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança mais a Alemanha) em outubro de 2009 em Genebra. Naquela versão do acordo, Rússia e França enriqueceriam o urânio. Teerã achou poucas as garantias que lhe ofereciam e apresentou outras possibilidades. Mas ninguém confiava em ninguém, e aquelas negociações fracassaram. Agora, a novidade é a entrada da Turquia – produto da estratégia de mediação partilhada entre Brasil e Turquia.

O coro dos “não dará resultados” já grita mais alto que show do Metallica. Previsivelmente, o anúncio, por Teerã, de que, com acordo ou sem, continuará a enriquecer urânio a 20% em seu território, já está levando EUA e Israel a tentar desacreditar toda a operação. Para a diplomacia brasileira essa é crítica extremamente fraca – e chamam a atenção para a evidência de que é a primeira vez que o Irã realmente aceita mandar combustível nuclear seu para ser (mais) enriquecido fora do país.

Franceses e alemães – fazendo coro a Washington –, já estão dizendo que o sucesso da mediação Brasil-Turquia não impedirá o Irã de fazer acordo mais amplo com a IAEA. O eixo do Ocidente está atualmente obcecadamente empenhado em impedir que o Irã enriqueça urânio em seu território – obcecação que contraria até o Tratado de Não-proliferação Nuclear (NPT).

Não há sinais – e a IAEA, nessa primavera, outra vez confirmou o diagnóstico feito em visitas anteriores – de que o material nuclear iraniano produzido na usina de Natanz esteja sendo desviado para algum programa de fabricação de armas. Não há sinais de que o Irã esteja tentando enriquecer urânio a 95%, taxa de enriquecimento necessária para qualquer programa de produção de armas nucleares. Mas não há o que desvie Washington da luta por conseguir aplicar uma quarta rodada de sanções econômicas (via o Conselho de Segurança da ONU) contra o Irã. Não importa, sequer, que não haja eleitores norte-americanos votantes no Conselho de Segurança. Não importa, sequer, que nenhum eleitor norte-americano jamais sequer se aproximará de lá.

O detalhado texto do acordo, de 10 itens, que o Chanceler Mottaki leu em conferência de imprensa em Teerã, não ganhou nem ganhará o espaço que merece na mídia ocidental corporativa; mas lá o Irã reafirma seu compromisso como signatário do NPT, reconhecido pelo Brasil e pela Turquia; e caracteriza o acordo como “ponto de partida para iniciar a cooperação”.

O Líder Supremo do Irã aiatolá Ali Khamenei, não imune ao brilho das galerias do Sul global, lembrou, depois de reunir-se com Lula, que os EUA estavam tão empenhados em minar todo o esforço do Brasil, porque não aceitam a ideia de “dois países independentes” – Brasil e Turquia – atuarem com potências diplomáticas de primeira linha.

O que provavelmente aconteceu foi que os BRICs, mais a Turquia, em esforço concertado ao longo das últimas poucas semanas, conseguiram convencer a liderança iraniana de que, sem alguma espécie de acordo, os EUA continuariam a pressionar a favor de mais e mais sanções “debilitantes” – e todos sabemos o que aconteceu ao Iraque em 2003.

E ambos, Khamenei e Ahmadinejad, parecem ter entendido a mensagem. De qualquer forma, o segredo do acordo esteve em descobrir um modo de operar que não ferisse a dignidade do Irã. Lula acertou: o conceito realmente operativo nas negociações foi “confiança”.

Resta saber se Washington e aliados render-se-ão às evidências. Ou continuarão a insistir em seu jogo de perde-perde?

O artigo original, em inglês, pode ser lido em:

Por nsdel

Jornal da Band – Pesquisa VOX POPULI

BAHIA



Jacques Wagner  PT ...….. 41%
Paulo Souto DEM ……….. 28%
Geddel Vieira PMDB  ……..8%



Pernambuco



Eduardo campos PSB ………........57%
Jarbas Vasconcelos PMDB ……..28%

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Mais uma vitória do Presidente LULA



A professsora universitária francesa Clotilde Reiss chegou ontem a Paris, depois de ficar dez meses detida no Irã sob a acusação de espionagem. A libertação foi negociada com a ajuda do Brasil, a quem o presidente da França, Nicolas Sarkozy, agradeceu.

O retorno da professora à França concluiu um período de tensão extra entre Paris e Teerã, desde a prisão de Reiss após as manifestações contra o resultado das eleições iranianas, em junho de 2009.

Sarkozy agradeceu ao Presidente Lula, na negociaçõe com o governo iraniano para a libertação. "Clotilde Reiss estava detida no Irã desde 2009", disse o presidente francês em um comunicado. O governo brasileiro comemorou a notícia.

O assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, disse ao colega brasileiro que a decisão de libertar Reiss "foi um presente para o Brasil".

Garcia disse que a libertação da professora francesa foi resultado de meses de "diplomacia silenciosa" do Brasil.

Retornando de um dia inteiro de negociações, o chanceler Celso Amorim não escondia sua satisfação. "É uma bela coincidência", comentou o chanceler, associando a libertação de Reiss à obtenção de um acordo com o governo iraniano.
O embaixador do Brasil no Irã, Antônio Salgado, disse que a própria Clotilde Reiss enviou uma mensagem de agradecimento ao Brasil pelos esforços.
 
Serra, a taxa de juros e a História

A questão verdadeiramente estrutural que distingue Serra e Dilma é de natureza histórica, não retórica. Grosso modo, poder-se-ia condensá-la numa pergunta: desenvolvimento para quem? A resposta opõe, de um lado, os interesses mais retrógrados e reacionários da sociedade brasileira, que tem, objetivamente, em Serra seu estuário neste pleito, e, de outro, Dilma Rousseff, referência de continuidade do amplo espectro de forças aglutinadas em torno do atual governo. É isso que está em jogo nesta campanha presidencial.



Editorial - Carta Maior

José Serra critica, corretamente, a ortodoxia encastelada no Banco Central que subiu a taxa de juros em abril de 2008, quando a crise internacional já campeava solta nos mercados financeiros e requeria um ajuste de sentido exatamente oposto. O que Serra não diz –porque não pode, porque não enxerga ou porque discorda - é que sem contar com o lubrificante do juro baixo para gerar um efeito contracíclico favorável ao investimento e a demanda, o Presidente Lula não hesitou.

A contrapelo do que foi a ação do Estado brasileiro em crises anteriores, sobretudo aqueles registradas durante os oito anos em que Serra foi ministro de FHC, Lula determinou generosa ampliação da liquidez pelos bancos públicos –que ele não privatizou, mas fortaleceu, ao contrário de seu antecessor; a expansão do crédito popular –cujo volume mais que dobrou em relação ao governo tucano e hoje se aproxima de 50% do PIB; o aumento real do salário mínimo,que teve ganho real de 73% acima do INPC desde 2003; a ampliação do Bolsa Família –que a oposição até há pouco denominava de ‘bolsa-esmola’ e ‘gastança’; o financiamento de máquinas à agricultura famíliar; a ampliação dos investimentos da Petrobrás, e os do PAC, além do incentivo à construção civil, com o reforço nos financiamentos da CEF e o programa Minhas Casa, Minha vida. A enfeixar esse conjunto, uma contundente desoneração fiscal foi promovida em vários setores produtivos.

Delfim Netto, ex-ministro da ditadura militar, já havia feito a mesma crítica de Serra à política de juros do BC antes, com maior profundidade e rigor, em colunas que assina na Folha e no jornal Valor, ademais de textos nesse sentido publicados em sua página na Carta Capital. Carta Maior concordou, deu divulgação e ampliou essas críticas na época, abrindo espaço às ponderações no mesmo sentido feitas por outros economistas, à esquerda.

Nem por isso credita-se a Delfim Netto qualificações políticas para gerir o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro na sucessão do Presidente Lula.

Não se confunda essa travessia com uma gincana de conhecimentos em macroeconomia, quesito em relação ao qual tanto Serra, quanto Delfim e Dilma Rousseff se ombreiam, sendo conhecidas também as restrições da ex-ministra à ortodoxia neoliberal, bem como seu corajoso contraponto cotidiano à orientação imposta pelo paloccismo no 1º mandato de Lula. O que está em questão nesse divisor político é mais dramático do que a proficiência retórica em capítulos básicos de livros textos de estudantes de economia. A questão verdadeiramente estrutural que distingue Serra, Delfim e Dilma é de natureza histórica, não retórica. Grosso modo, poder-se-ia condensá-la numa pergunta: desenvolvimento para quem? A resposta opõe, de um lado, os interesses mais retrógrados e reacionários da sociedade brasileira, que tem, objetivamente, em Serra seu estuário neste pleito, e, de outro, Dilma Rousseff, referência de continuidade do amplo espectro de forças aglutinadas em torno do atual governo, dentro do qual os interesses reacionários - que empalmam a candidatura José Serra - sofrem o contrapeso da enraizadora presença de movimentos e lideranças populares, incluindo-se aí o Presidente e sua base de origem.

É isso que está em jogo nesta campanha presidencial. O ferramental macroeconômico, assim como a bola, no futebol, para recorrer a uma metáfora a gosto de Lula, não decide o jogo. Quem marca ou leva gol é a equipe que conduz a bola e, sobretudo, o lugar reservado à imensa massa de brasileiros no jogo do desenvolvimento. Sabemos o lugar que aqueles que apóiam Serra destinaram ao interesse popular sempre que empalmaram o poder como pretendem faze-lo agora, de novo, tendo à frente um personagem obrigatoriamente esquivo, dada a natureza imiscível entre o que sai de sua boca e as forças que comandam o seu destino.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

 ESTÁ DOCUMENTADO: COM SERRA, PETROBRAS SERÁ PASSADA NOS COBRES



Tucanos já acionaram o Ministério Público para garantir a privatização da empresa



Em 2007, indignados pelo fato de a Petrobras ter adquirido a totalidade das ações ordinárias e preferenciais detidas pelos controladores da Suzano Holding no capital da Suzano Petroquímica, os correligionários de José Serra – aqueles mesmos que queriam desmontar a Petrobras osso por osso – ingressaram com uma curiosa representação contra a petroleira: queriam melar o negócio por considerá-lo uma “ofensa ao Programa Nacional de Desestatização”.
 

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dilma: FHC e Serra detonaram a indústria naval

Do: http://www.conversaafiada.com.br/

“No Rio Grande do Sul, candidata do PT diz que setor (indústria naval) passou de 2 mil empregados (no Governo FHC/Serra) em 1998, para 45 mil (no Governo Lula).”


Paulo Henrique Amorim

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INDUSTRIA NAVAL BRASILEIRA


PERÍODO LULA / DILMA



X


PERÍODO FHC / SERRA






A extinção da estatal Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, determinada pelo presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Fátima Oliveira: E aí, vai votar em quem?


LULA 

ou

FHC



Está chegando a hora de indagar: e aí, vai votar em quem?

FÁTIMA OLIVEIRA / Médica – fatimaoliveira@ig.com.br


Pra quem gosta de se embriagar em emoções fortíssimas em eleições, o meu caso, as eleições presidenciais 2010 parecem que serão um fiasco, dada a pasmaceira que se desenha em tela. Se as candidaturas insistirem em desfilar na avenida da continuidade da Era Lula, cadê as emoções? Apenas sacralizarão o nome de Lula para séculos sem fim, Amém! E é o que vai rolar.

O povo, que nada tem de bobo, se perguntará: “Ora, se Lula foi tão bom assim que seu espólio é venerado pelas três candidaturas, agora é Dilma! A gente não é besta, pois ela ajudou a levantar tijolo por tijolo desse espólio”. É natural que assim seja. O que interessa é o resultado global dos anos Lula, que é positivo. E o povo saca isso na maior. Não interessa que gente como eu diga que esperava muito mais.

Sequer há espaços para que a candidatura do governo assuma compromissos de avanços democráticos, pois o empenho eleitoral é dizer aos quatro cantos do Brasil que não ocorrerão retrocessos. E aí é que se concentram os motivos para sufragar Dilma Rousseff, pois tendo sido integrante do núcleo de poder do atual governo só ela tem legitimidade de sobra para dar as garantias de continuidade da Era Lula.

Serra é do PSDB, que não goza da confiança do povo e não desatola da crise existencial desde sua nascença. Ao estilo “Eu sou mais eu”, não se escusou da arrogância ao dizer: “Eu me preparei a vida inteira para ser presidente”. E como não pode se apresentar como candidato de alguma mudança, foi comedido: “Venho hoje, aqui, falar do meu amor pelo Brasil; falar da minha vida; falar da minha experiência; falar da minha fé; falar das minhas esperanças no Brasil”.

Tudo embalado nos paetês do que se fala que é seu mote de campanha: “O Brasil pode mais”. Cadê a novidade? De mamando a caducando todo mundo sabe que é um típico caso de perdido e atolado. E São Paulo não podia mais? E por que não houve o “mais” por lá? Pura esperneação para fugir do óbvio e ululante, pois o que Serra encarna mesmo são os tempos FHC, do qual o povo quer é distância.

Marina perdeu a confiança de quem admira e defende o Governo Lula, que é onde se concentrava o seu fiel eleitorado. Sem falar que o Partido Verde nunca foi por aqui tão verdoso. Se fosse, no atual estágio da compreensão que a sociedade e a intelectualidade brasileiras têm das questões ambientais, que ainda é baixa, mas cresceu exponencialmente, de certeza o PV seria um dos grandes partidos políticos do nosso país, porém estagnou.

E há motivos para tanto. Um deles é a fragilidade ideológica do PV que não lhe permite construir argumentos com apelo de aglutinação popular capazes de dar suporte a uma candidata que as qualidades de Marina Silva exigem. Nem tem costados para bancar os deméritos dela de vieses religiosos fundamentalistas.

Recentemente li uma matéria que discorria sobre a marca de antipatia dos dois presidenciáveis mais cotados: Dilma e Serra. Dizia que o estilo “hard” de ambos não poderia dar a leveza necessária a uma campanha arrebatadora de corações e mentes. E que Marina Silva e seu estilo à la Madre Tereza de Calcutá, embora evangélica, também não vestiria uma campanha fashion. Como não é um concurso de simpatia, é um conforto que as três candidaturas, pela história de vida delas, não podem receber a pecha de anti-povo, evidenciando que o Brasil chegou a um estágio mais elevado do verdadeiro valor da democracia também na política: não há a figura do “menos pior”. E aí, vai votar em quem?

Livro mostra qual é o Brasil que a revista "Veja" quer



Em tempo chega um estudo acadêmico sobre o papel da Veja durante o período das privatizações. Em entrevista ao Observatório do Direito à Comunicação, a historiadora Carla Luciana Silva, autora do livro “Veja: o indispensável partido neoliberal (1989-2002)” , discute a relação da revista com as privatizações e com grupos internacionais; além do papel da publicação durante o governo Collor.

Confira a entrevista completa:

"Veja foi indispensável para construir o neoliberalismo"

A professora do curso de História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) Carla Luciana Silva passou meses dedicando-se a leitura paciente de pilhas de edições antigas da revista Veja. A análise tornou-se uma tese de doutorado, defendida na Universidade Federal Fluminense, e agora, em livro. “Veja: o indispensável partido neoliberal (1989-2002)” (Edunioeste, 2009, 258 páginas) é o registro do papel assumido pela principal revista do Grupo Abril na construção do neoliberalismo no país.


A hipótese defendida pela professora Carla é que a revista atuou como agente partidário que colaborou com a construção da hegemonia neoliberal no Brasil. Carla deixa claro que a revista não fez o trabalho sozinha, mas em consonância com outros veículos privados. Porém, teve certo protagonismo, até pelo número médio de leitores que tinha na época – 4 milhões, afirma Carla em seu livro.

“A revista teve papel privilegiado na construção de consenso em torno das práticas neoliberais ao longo de toda a década. Essas práticas abrangem o campo político, mas não se restringem a ele. Dizem respeito às técnicas de gerenciamento do capital, e à construção de uma visão de mundo necessária a essas práticas, atingindo o lado mais explícito, produtivo, mas também o lado ideológico do processo”, afirma trecho do livro.

O livro pode ser adquirido diretamente com a autora, através do email carlalssilva@uol.com.br carlalssilva@uol.com.br  Este endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

Sobre o título do livro, porque “indispensável”? É uma brincadeira com o slogan da Veja ou reflete a importância da revista para o avanço do neoliberalismo no Brasil?

O título é uma alusão ao slogan da revista e ao mesmo tempo nos lembra que ela foi um sujeito político importante na construção do neoliberalismo. A grande imprensa brasileira foi indispensável para que o neoliberalismo tenha sido construído da forma que o foi. A Veja diz ser indispensável para o país que queremos ser. A pergunta é: quem está incluído nesse “nós” oculto? A classe trabalhadora é que não.

Quais os interesses defendidos por Veja?

Os interesses são os dominantes como um todo, mais especificamente os da burguesia financeira e dos anunciantes multinacionais. Em que pese o discurso de defesa da liberdade de expressão articulado à publicidade, o que importa pra revista são os interesses em torno da reprodução capitalista. A revista busca se mostrar como independente, o que se daria através de sua verba publicitária. É fato que a revista tem uma verba invejável, mas isso não a transforma no Quarto Poder, que vigiaria os demais de forma neutra. Ao mesmo tempo em que ela é portadora de interesses sociais, faz parte da sociedade, a sua vigilância é totalmente delimitada pela conjuntura e correlação de forças específica. O exemplo mais claro são as denúncias de corrupção e forma ambígua com que Veja tratou o governo Collor, o que discuto detidamente no livro.

Isso significa defender atores e grupos específicos? E, ao longo dos anos, estes atores mudam?

Essa pergunta é mais difícil de responder, requer uma leitura atenta, a cada momento histórico especifico. A revista não é por definição, governista [no período estudado]. Ela é defensora de programas de ação. No período analisado (1989-2002), sua ação esteve muito próxima do programa do Fórum Nacional [www.forumnacional.org.br] de João Paulo dos Reis Velloso. Ela busca convencer não apenas seus leitores comuns, mas a sociedade política como um todo e também os gerentes capitalistas.

E que relação Veja estabelece com grupos estrangeiros?

Essa é outra pergunta que requer atenção e mais estudos. O Grupo Abril não é um grupo “nacional”. Suas empresas têm participação direta de capital e administração estrangeira. Primeiro, é importante ter claro que o Grupo Abril não se restringe a suas publicações. A editora se divide em várias empresas, sendo que a Abril é majoritariamente propriedade do grupo Naspers, dono do Buscapé [site de comparação de preços] e de empresas espalhadas pelo mundo todo, da Rússia à Tailândia. Essa luta pela abertura de capital [no setor das comunicações] foi permanente ao longo dos anos 1990 e a Abril foi o primeiro grande conglomerado [de comunicação] brasileiro a abrir seu capital legalmente. É bom lembrar que o grupo tem investido bastante também na área da educação, e por isso a privatização do ensino continua sendo uma meta a atingir.

Aconteceram várias edições do “Fórum Nacional” no período em que faz sua análise. Por que Veja defendeu com tanto afinco as resoluções, especialmente econômicas, saídas desse Fórum?

O Fórum Nacional tem vários títulos. Eles [os integrantes do Fórum] foram se colocando ao longo dos anos, desde 1988, como intelectuais que pensam o Brasil e defendem programas de ação – as formas específicas de construção de um projeto sócio-econômico, que mudaram ao longo dessas duas décadas. Não existe um vínculo orgânico da revista com o Fórum, ao menos não o comprovamos, mas existe uma afinidade de programa de ação. A tentativa de reforma da Constituição em 1993 foi um bom exemplo, conforme desenvolvo no livro.

No livro, você aponta que a Veja “comprou” as idéias no Fórum Nacional, transformando-as numa verdadeira cartilha econômica para salvar o Brasil no começo dos anos 90. Quais seriam os principais tópicos desta “cartilha”?

O Fórum Nacional surgiu em 1988 como uma forma de organizar o pensamento e ação dominante. Ele se constituiu um verdadeiro aparelho privado de hegemonia, buscando apontar caminhos para a forma da hegemonia nos anos 1990. E existe até hoje, fazendo o mesmo. Portanto, ele não é apenas uma fórmula econômica, mas de economia política. Tratou de temas relevantes como “modernidade e pobreza”, “Plano Real”, “Segurança”, “estratégia industrial”, “política internacional”, sempre trazendo intelectuais considerados “top” do pensamento hegemônico para ver, a partir de suas pesquisas, quais caminhos deveriam ser seguidos, não apenas pelos governos, mas também pela sociedade política, ditando os rumos da economia.

Essa “cartilha” econômica foi atualizada? Você se recorda de alguma campanha recente em que a revista tenha tomado a frente?

A atualização é constante, mas não é uma cartilha. O Fórum e a revista são independentes um do outro, ao que parece, não há um vinculo orgânico. Mas Veja assumiu várias campanhas, sendo a principal delas a manutenção do programa econômico de Fernando Henrique durante todo o governo Lula. A blindagem feita ao presidente Lula da Silva foi imensa, especialmente se compararmos com o que foi feito do caso do mensalão ao que ocorreu no governo Fernando Collor. O que explica isso parece ser claramente a política econômica [de FHC e reproduzida por Lula] que garantiu lucros enormes aos bancos e a livre circulação de capitais, além de outras políticas complementares.

Qual foi a importância da revista para a corrente neoliberal desde Collor? Dá para mensurar?

Foi muito importante, mas não dá pra mensurar. É importante que tenhamos claro que o neoliberalismo não é uma cartilha, por mais que se baseie em documentos como o Consenso de Washington, por exemplo. Ele não foi “aplicado”. Foi construído como projeto de hegemonia desde os anos 1980. A grande imprensa participou da efetivação de padrões de consenso fundamentais: as privatizações, o ataque ao serviço público, a suposta falência do Estado. É importante olharmos hoje, pós crise de 2008, para ver que muitos desses preceitos são defendidos como saída da crise.

Qual a importância de Veja para as privatizações?

Difícil medir dessa forma. Posso falar da importância das privatizações para Veja: elas precisavam acontecer de qualquer forma. E isso era um compromisso com o projeto que representava e com os seus interesses capitalistas específicos, do Grupo Abril. É bom lembrar que a criação de consenso em torno desse ideal foi importante para que o grupo pudesse abrir seu capital oficialmente ao capital externo.

Veja deixa de ser neoliberal para ser neoconservadora? Digamos assim, amplia sua atuação do debate econômico, fundamental à implantação do neoliberalismo, e passar a fazer campanhas também em outras pautas conservadoras?

Não vejo essa distinção. Neoliberalismo foi um projeto de hegemonia, uma forma de estabelecer consenso em torno de práticas sociais específicas. A forma do capitalismo imperialista, portanto, não se restringe à economia. A política conservadora sempre esteve presente no neoliberalismo, haja visto a experiência de [Ronald] Reagan [presidente dos Estados Unidos] e [Margareth] Thatcher [primeira-ministra da Grã-Bretanha], a destruição do movimento sindical, a imposição do chamado pensamento único. Por esse caminho chegou-se a dizer que a história tinha acabado e que a luta de classes não fazia mais sentido. Os movimentos sociais foram duramente reprimidos e, além disso, se buscou construir consenso em torno de sua falência, o que foi acompanhado pelo transformismo dos principais partidos de esquerda, especialmente no Brasil. O que vemos hoje é a continuidade dessa política. Os dados dos movimentos sociais denunciam permanentemente o quanto tem aumentado a sua criminalização ao passo que os incentivos ao grande capital do agrobusiness só aumenta.

Existem diferenças muito contundentes entre a Veja de 89, a de 2002 e a de hoje?

Há diferenças claro. Havia, em 1989, um grau um pouco mais elevado de compromisso com notícias, com investigações jornalísticas, o que parece ter se perdido totalmente ao longo dos anos. A revista se tornou uma difusora de propagandas, tanto de governos como de produtos (basta ver as capas sobre Viagra ou cirurgias plásticas).

Já nos primeiros capítulos do livro, você chama atenção para o fato de Veja ser muito didática e panfletária quanto ao liberalismo. Ela deixou de fazer apologia ao neoliberalismo de maneira tão clara?

Teria que analisar mais detidamente. Essa é uma coisa importante: sentar e ler detidamente, semanas a fio, pra podermos concluir de forma mais segura a posição da revista.

Em algum momento do período analisado a revista foi muito atacada por alguma cobertura específica?

Sim, a revista teve embates, especialmente com a IstoÉ e, posteriormente, com a Carta Capital. Essas revistas talvez tenham ajudado a tirar uma ou outra assinatura de Veja em conjunturas especiais. O caso Collor não é simples como parece. A revista Veja fazia campanha nas capas mostrando o movimento das ruas e dentro do editorial ia dizendo que o governo deveria ser mantido em nome da governabilidade. Foi quando isso se tornou insustentável que ela defendeu a renuncia do presidente (e não o impeachment). Mas depois, construiu uma bela campanha publicitária. A Abril colocou luzes verde amarela em seus prédios, lançou boton comemorativo, pra construir memória, dizer que foi ela que derrubou o Collor. O importante é a gente perceber que não é esse o movimento mais importante. O importante é a gente ter instrumentos contra hegemônicos que nos permitam construir uma visão efetivamente critica do que está acontecendo. É importante ressaltar que ela [Veja] sempre fala como se fosse a porta-voz dos interesses da nação, do país, da sociedade, e como se não fosse ela portadora de interesses de classe.

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