No final de semana, multiplicaram-se as matérias
sobre as razões de as empresas americanas e inglesas terem fugido do leilão de
Libra. Nem uma palavra para falar das verdadeiras razões
Por Fernando Britto, do Tijolaço.
A incapacidade de raciocinar a profundidades
maiores que cinco centímetros parece ter se tornado uma praga no jornalismo
nacional. No final de semana, multiplicaram-se as matérias sobre as razões de
as empresas americanas e inglesas terem fugido do leilão de Libra: modelo de
partilha é desconhecido, há muita interferência estatal, a presença da
Petrobras como operadora incomoda e por aí vai.
Ah, e ainda tem a brilhante conclusão do Estadão
que, através de uma pesquisa nos sites das petroleiras chegou à conclusão de
que elas não se interessam pelo pré-sal brasileiro – imagina se iam publicar
ali os lugares onde tem olho grande. Publicam onde estão, porque todo mundo
sabe que estão, mas não onde querem estar, óbvio.
E como pode ser desconhecido o modelo de partilha
se ele é praticado por mais da metade dos maiores produtores mundiais de
petróleo? Muito menos é problema a operação do campo pela Petrobras, porque
todas elas já compraram interesses em campos operados pela brasileira. O
chororô que “vazam” para os jornalistas é o gemido triste da raposa dizendo que
“bem, aquelas uvas não prestavam mesmo, estavam verdes”.
Nem uma palavra para falar das verdadeiras
razões. Que são duas, e se interligam. A primeira e óbvia foi a situação
canhestra em que ficou o governo americano – do qual as empresas americanas e
inglesas, todos sabem são irmãs siamesas – com a revelação da espionagem sobre
a Petrobras. Qualquer investida mais ousada para deter o controle do campo
seria vista como resultado de informação privilegiada. E, cá pra nós, seria mesmo.
Segundo, impossibilitadas politicamente de forçar
a Petrobras a um acordo, sabem que teriam de subir seus lances, porque a
brasileira está articulando uma composição com os chineses. E lances altos, num
leilão de partilha, quer dizer uma parte maior para o governo brasileiro. No
leilão de Libra o esquema de participação fica como exposto no quadro ao lado,
com pequenas variações em função do volume produzido e do preço internacional
do petróleo.
Lembre que como estamos falando em um volume recuperável
de óleo em torno de 10 bilhões de barris, a 100 dólares cada um, cada um por centro
equivale da 10 bilhões de dólares, ao longo de 35 anos.
E estas percentagens estão longe de serem as mais
altas exigidas no mundo: em alguns países, como a Indonésia, elas chegam a
passar de 90%, pela exigência de venda a preços mais baixos para o mercado
interno. Nem por isso as grandes fogem de lá.
Nossa imprensa, porém, não mostra isso a seus
leitores.
Está mais preocupada com as pobrezinhas das
multinacionais do petróleo, tão generosamente dispostas a nos ajudar a tirar o
óleo de lá das profundezas, está perdendo com estas “regras absurdas” que
fazem a receita ficar com o país. Alguns agem por servilismo, mesmo. Mas a
maioria é por incapacidade de pensar mesmo, que os faz repetir como papagaios os
que as vedetes da imprensa dizem.
Por sorte, há exceções e vale a pena registrar
uma, de Jânio de Freitas, na Folha de ontem: “Vista pela ótica da história das
relações internacionais, as americanas Exxon (ainda Esso, para nós) e Chevron e
as britânicas BP e BG fizeram uma gentileza ao Brasil, com sua desistência de
participar dos leilões do pré-sal. Preferem investir para a desnacionalização
do petróleo mexicano.
As três primeiras são o que se pode definir como
empresas geradoras de problemas, onde quer que estejam. A Exxon ou Esso ou
Standard Oil tem um histórico de presença no centro de conflitos armados,
inclusive entre países, sem equivalente. E seus interesses sempre se tornaram
interesses do governo americano, para todo e qualquer efeito. Passem bem todas
quatro, o que não acontecerá ao México.”
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