Do site de Luis Nassif
Por Marco
Nassif, aproveitando a oportunidade, passou despercebido mas foi flagrado pelo Luiz Antonio Magalhães do Observatório da Imprensa. A Folha de SP tornou-se definitivamente um jornal surreal:
A matéria deste comentário saiu escondidinha, no segundo caderno do Cotidiano da Folha de S.Paulo, e não mereceu chamada de capa. É inacreditável que o jornal tenha feito o que fez na edição de sábado (3/10). Resumindo a história, depois de afirmar, no dia 19 de julho, na primeira página, que 35 milhões de brasileiros seriam contaminados pela gripe suína, o jornal mandou a campo o seu próprio instituto de pesquisas, o Datafolha, para realizar uma das coisas mais ridículas da história do jornalismo brasileiro.
Sim, porque a enquete mesmo é algo surreal: o Datafolha mandou seus pesquisadores para as ruas perguntar às pessoas se, nos últimos meses, elas tiveram “sintomas de gripe”.
Com o resultado em mãos, a Folha escreveu outra pérola que não resiste a dois minutos de análise. Segundo o jornal, “27% dos brasileiros tiveram sintomas de gripe desde junho”, o que equivale a 51,3 milhões de pessoas. Bem, aí o jornal faz uma continha malandra, diz que 40% desses casos devem ser da variante suína e chega aos 20 milhões de infectados pela doença no Brasil. No meio do texto, a ressalva de que o “auto-diagnóstico” não é propriamente a melhor maneira de se aferir as coisas, mas, enfim, está lá o número grandão – 20 milhões, uma enormidade, e ainda assim, 15 milhões abaixo do “previsto” pelo jornal em julho.
Um espanto
É evidente que a pesquisa não vale coisa alguma e que o número está superdimensionado. Dos tais 27% dos entrevistados (e não de toda a população brasileira, conforme a própria pesquisa mostra, porque não foram pesquisados os menores de 16 anos) que disseram ter tido sintoma de gripe, é bastante provável que um percentual expressivo tenha respondido afirmativamente mesmo no caso de ter passado apenas por um mero resfriado, muito mais comum do que a gripe, conforme apontam os especialistas.
Ademais, a estupidez cometida pelo jornal não se sustenta pela taxa de letalidade da doença. Se de fato fossem 20 milhões de brasileiros com a suína, apenas na faixa acima de 16 anos, admitindo a taxa de 0,4%, já deveriam ter morrido 80 mil pessoas em consequência da doença. Só que não morreram nem duas mil. Realmente, espanta que um jornalista inteligente, estudado e bem formado como Hélio Schwartsman se preste ao triste papel de assinar uma sandice como a que se pode ler a seguir.