quarta-feira, 15 de setembro de 2010



 
No último debate, o candidato José Serra tentou fazer uma provocação – e se deu mal, aliás – com Dilma Rousseff intrigando o fato de o Brasil ter relações político comerciais com o Irã, um país que condena mulheres à pena de morte. Não vai aqui nenhuma defesa da aplicação de uma pena capital, da qual discordo seja para homens ou mulheres, seja por que método for.
 
Mas há uma notícia ontem, nos jornais de todo o mundo – não a li nos brasileiros – que expõe muito bem a contradição da política ocidental em relação ao mundo árabe e evidencia que este caso do Irã só tem uma diferença de outros: o país não ser um aliado dos EUA.
 
Querem ver? Ontem, o Wall Street Journal noticiou que o Governo dos EUA vai enviar ao Congresso a proposta de um acordo para vender à Arábia Saudita nada menos que US$ 60 bilhões em armamento, incluindo helicópteros de ataque Apache(foto), de assalto Black Hawk e caças F-15. Será a maior venda de armas alguma vez realizada e as informações é que o “pacote” será ampliado com ofertas a outros aliados americanos no Oriente Médio, como o Kuwait, Omã e Emirados Árabes.
 
Mas a Arábia Saudita é uma democracia? Não. É uma monarquia onde, ao contrário do Irã, não há partidos políticos nem eleições, ou melhor, só eleições municipais e , assim mesmo, pela primeira vez em 2005 e sob intensas denúncias de fraude.
 
E a Arábia Saudita respeita os direitos humanos? Não, ela não apenas tem e aplica a pena de morte, como possui um sistema legal saudita prescreve pena de morte ou castigo físico, incluindo amputação das mãos e dos pés para certos crimes, como assassinato, roubo, estupro, contrabando de drogas, atividade homossexual e adultério.
 
Em 2008, uma mulher, Fawza Falih, foi condenada à morte por “bruxaria” e o caso foi parar até na Folha de S. Paulo.
 
Infelizmente, a imprensa brasileira e, até, a mundial, não achou isso escandaloso. Como Serra e a mídia brasileira acham normal – e é – que a Arábia Saudita seja um dos maiores parceiros comerciais do Brasil no mundo árabe.
 
E acham normal, numa região conflagrada e belicosa como o Oriente Médio, uma operação de venda de armas, dez vezes maior que o nosso programa de reequipampento aéreo, podendo chegar a muito mais que isso se considerados os demais “aliados” dos EUA na região?
 
Não temos nada a ver com as relações entre dois estados soberanos, como os EUA e a Arábia Saudita. Mas temos tudo a ver, no cenário mundial, com um programa de paz que seja equilibrado, sem exigir que um lado se desarme enquanto o outro é cevado com armamento pesado, embora de 2ª geração, porque o melhor, mesmo, os EUA não dão, não vendem e não emprestam.

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